sábado, 31 de dezembro de 2016

O último (!) (?) (?)

O último dia deste ano.

Estou no que chamam de a última tarde de um ano que se termina. Aqui, em matéria de tempo, as convenções são numéricas e dividem nossa existência em períodos contados.
Parece haver uma espécie de linha de partida que - como é de hábito em corridas ou em provas de resistência - é a mesma para quando chegamos ao término, isto é, para quando completamos o percurso.

Este último dia me traz um misto de sensações. Talvez, de alguma forma, eu perceba mais como os outros lidam com ele e menos como eu o presencio.
Alguns muitos outros têm o hábito de festejar o fim por meio de bombas e rojões... Então, a partir do culto à pólvora, posso imaginar como estão se sentindo. Eufóricos no nível máximo, mas  talvez mais tementes ainda ao silêncio.
Vários dos meus semelhantes têm o hábito do entretenimento explosivo nesta época: outro dentre os outros hábitos que eu não entendo.

Neste último dia convencionado, estou como me permito ser: às vezes triste docemente, com os olhos preguiçosos e absortos no que produzem, isto é, o pensamento.
"Pensar é estar doente dos olhos", mas confesso que os meus desde sempre se puseram enfermos ao inventar a todo instante o que desejaram ver.
Creio que 2017 será diferente. Afinal, mudança é nossa única constância. Ainda assim,não é difícil presumir que em 2017 haverá a mesma pausa dos sabiás no gramado e que a pelagem dos gatos sempre lembrará a parcela macia de existir.

"O País das Esmeraldas" se não se puser ao longe da minha janela - muitas vezes, os homens reduzem as árvores em dinheiro - estará vivo em minha memória.
(Oro para que "O País das Esmeraldas" esteja a salvo).
É fácil crer que o movimento dos pássaros será igualmente viajante nos 365 dias de 2017 e que isso independerá do meu estado de saúde, social ou financeiro.
É possível prever a mudez dos tijolos semelhante ao das telhas, quer eu vá a Veneza ou à "Rua dos Douradores" de Bernardo Soares.
Se eu ler Montaigne, se eu conhecer Kierkegaard, é certo que as folhas continuarão a se espalhar secas quando se transmutarem em clorofila fora do prazo... E a morte e a vida continuarão de braços dados como sempre estiveram.

E eu...Sempre a mesma nas minhas modificações, na constância variada das sensações que ora invento, ora deixo-me inventar pelo que sinto.
Só.
Acompanhada de tudo que, por sua vez, se confisca no nada para voltar a ser pergunta.
Caminho. E olho para este espelho a refletir o rumor do vento nas folhas do Ipê  do meu quintal.
Morro um pouco como sempre. Invento histórias para isso, para renascer frente ao peso das constatações que me convidam a uma espécie de sono.
É assim, como noutro dia qualquer.

Sempre.




segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Do crescer (ou do Ad Infinitum).

Nem a temperatura nem a intensidade do toque foram os imaginados.
Tudo esteve de acordo com um modus operandi em oposição às expectativas da criatividade amorosa.
Ainda assim,
a escada de acesso a um corredor do tipo escolar não atuou como qualquer tipo de obstáculo rumo àquele lugar.
Uma espécie de sala de diretoria? O que era aquilo?

Havia uns olhos...muitos olhos que eu não sabia se eram curiosos e maledicentes. Deviam ser...
Ainda assim,
aconteceu intenso, vigoroso...
tão intenso e desejado que em meu lábio inferior foi criado uma espécie de calo. Daqueles calos resultantes após um período de pesada pressão.

Assustei-me um pouco, não suficientemente para que o desejo deixasse de ser irresoluto.
Sobre os olhos dois halos lunares marrons claros.
As roupas,
o corpo,
o calçado,
as pernas eram-me familiarmente diversas.
O modus operandi era de uma mecanicidade infantil e um tanto bizarra.

Um olhar específico de alguém freado pelo espanto, pela ofensa de um amor fora de forma.
Risos em dupla.
Não se importava mais com a fidelidade do amor? De qual amor estamos falando?
Não.
Queria.

Resolvidas as dúvidas pela metade, dirigiam-se...dirigiam-se, ainda que o medo.
Mas, praticamente em frente à porta daquele cômodo de tentativas, lá estava ele. Sozinho, o ar um pouco cansado. E lindo. Muito mais bonito que tudo, inclusive que todo o cenário escolar cujo chão e arredores eram didaticamente neutros. De uma neutralidade ensino público sem grandes pretensões.
Agora, os obstáculos propostos pela escada ineficaz tornaram-se ainda mais pequenos. Não podiam passar por conta do amor.

Cedeu o lado que lhe competiu ceder, ainda que a íntima contrariedade; concomitantemente às decisões veredictas da consciência: um empecilho.
Conversas, cumprimentos, farsas, esconderijos... E a gagueira.
E a gagueira, Deus do céu! E a gagueira.
Não sabiam o que fazer, nem o que pensar.
Graças a Deus, alguém resolveu chamar a prima mãe que pôs-se a conversar.
Tudo de volta à normalidade, ainda que os cabelos estivessem compridos! (?)

Mas, ao olhar, ao dirigir-se a mim...
Sua dislexia me incomodava penalizando-me diante daquele inevitável.
Minha tristeza de saber
que minha distância a medicava. Na verdade, medicava a todos.

Como antídoto para o desejo e muito provavelmente para o possível amor minha distância.
Tristeza medicinal, salutar.
Imaginauta, quem  lhe mandou querer aprender com Montaigne? Seu inconsciente, aluno aplicado, dispô-se a reter genuinamente o ensino.
Entendeu?


  • "É a primeira lição que os mexicanos ensinam a seus filhos, quando, ao saírem do ventre das mães, saúdam-nos assim: ' Filho, vieste ao mundo para suportar: suporta, sofre e cala-te.' "
  • "É preciso aprender a sofrer o que não se pode evitar."

E, Imaginauta, não há caminho de retorno: o modus operandi teu  tem sido por ti mesma ajustado para o modus crescendi ad infinitum.

Então, suporta!

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Entre a Górgona e Baubó.


Outra vez, vi-me refém do que senti e me assustei. Vinha eu pela copa, quando - repentino - deparei-me com o computador hospedeiro de um e-mail que significava outro compromisso! Logo eu! Se não tivesse ido beber água numa caneca, eu não olharia para o computador hospedeiro e, muito menos, vislumbraria uma das horripilantes facetas da Górgona!

Não importasse aonde eu fosse - lá estava ela a me petrificar! No lençol desarrumado, pelos travesseiros...  Até mesmo no vaso sanitário!
Inutilmente, tentei fechar os olhos. E o fiz... Mas, sussurrando, a Górgona me vinha com umas perguntas esfíngicas, daquelas neuras do tipo "Decifra-me ou te devoro". 
Passei o dia tal como a coxa de um frango... Um contrafilé muito mal passado... Sei lá, talvez uma carne de pescoço... A Górgona temperava-me com muito coentro ( "coentro" me remete à ideia de amargura, sabe lá Deus o porquê disso!)

Chorei muito! Olhava para mesmice do que eu não fazia sentido pra mim... 
Pensei em "saudade cósmica", mas, meus destinatários fantasmagóricos não deixaram qualquer endereço para o envio das minhas lágrimas missivas!
Desisti.

Pus os pés na terra, os artelhos por entre o gramado. Formigas, abelhas, pragas e pólen... Sorri!
Mal podia saber que, ao sentar no degrau da pequena escada, eu encontraria o apego a um pedregulho... De novo a tal da cristalização. E a Górgona!
De nada adiantavam as formigas, nem as abelhas... O frio nem mais se contrariava sob o mormaço... E o que diriam as nuvens me vendo naquele estado? Também não me importava aquela opinião ora rarefeita ora desabante!

Resolvi ligar a tevê. Assistir a novelas antigas! Sorri algumas vezes.  Mas, aí, ao cabo do capítulo, novas lágrimas! E a Górgona! Enfeitando minhas olheiras. Reivindicando novas rugas...
E se eu tomar um café com pão com manteiga na padaria? Que Górgona resistiria a este mimo? A minha! Pois foi a ação de voltar para casa e me ver sozinha, para me ver prostrada no escuro, ou melhor no semiescuro - esconderijo dos vermelhos do poente.
Foi quando, numa tentativa de ultimato, decidi me valer das arapucas filosóficas! Talvez a Górgona gostasse desses entretenimentos, afinal, desde a Grécia antiga que tentam explicar ou desenhar as dores que nos fazem existir assim: tão lacrimosamente... (pensava comigo).
Apelei para palestras virtuais...filósofos contemporâneos...
Falaram de Aristóteles... Hum! É... talvez...
Depois do moço do pessimismo elegante e genuíno chamado Schopenhauer... Oba! Esse aqui faz mistureba entre vontade, representação, melancolia e tédio... Já tão falando a língua que eu arranho muito mal...
E, na sequência: Bum!!! Nietzsche!! A imaginação ! A criação! 
Como não me lembrar de Cecília e do truta chegante Baudelaire?
Foi então que houve a miraculosa menção à Baubó! A Figura mitológica capaz de defrontar a Medusa com seu deboche! Epa! Lembraram-me de uma outra eu que esperava desanimada no banco de reserva!
Olha, eu poderia explicar  a origem destes personagens... Mas, hoje não! Procurem  no tio Google! Não sei se vocês têm o ingênuo hábito de encarar a Górgona, lidar com a tal sem qualquer tipo de artifício...  Bem, talvez a pesquisa os ajude na defesa frente ao monstro... Boa sorte!

Por hoje, após tanta fadiga, só desejo mesmo contemplar o que há debaixo da saia de Baubó! 
Para minha graça, a velhinha sapeca fez-me lembrar do quanto isso tudo pode ser ridículo! Trágico! Risível!
Um pouco mais consciente, rio agora das passagens desse dia repleto de forças gorgôneas que, aliás, se finda em deboche 'baubóstico" (diga-se de passagem!)
Salvei-me!
Vamos ver as cenas dos próximos capítulos em que, possivelmente, haja novos surtos existenciais... 
Como me portarei diante do encontro dessas duas senhoras que fazem de mim o que venho me tornando?
Quem viver, não sei se perde ou não por esperar...
(Já avisamos que qualquer semelhança com a ficção não é mera coincidência.)
Resultado de imagem para górgona da vinci

"Górgona" - Da Vinci

Resultado de imagem  Uma das representações de Baubó.

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

A visita da velha senhora

A senhora apresenta-se novamente: olhos obscuros, lábios circunspectos (que sorriem de um leve arquear superior, ainda que imperceptível).
Como de hábito, vem trajada de negro. Alguma peça da vestimenta esvoaça cinzamente, enquanto a brisa imaginária sopra sobre a cortina inexistente de uma janela recém-inventada.
Sua presença se impõe diante das letras que tropeçam confusas, dada à soberania de quem as observa. Põem-se miudinhas, coitadas, mas persistem.

A grande dama, a visita da velha senhora que não é uma das personagens de Cacilda Becker. Esta dama antiga sempre requer de mim esforço, silêncio e displicência solene.
Acena-me de longe e rítmica se aproxima. Seu cumprimento é sutil e, no entanto, informal. Sabe que somos velhas e grandes conhecidas.
Aquiesce com os olhos baixos a agudeza trágica da minha percepção. Resisto à sua companhia, vegetando-me no corpo renovado pela chuva do gramado: _ Tudo cresce a despeito da estética daninha já florida. 
As árvores deixam-se ver de seus hábitos longínquos: noviças e sorores da ordem Sacro Santa das Clorofiladas. Oração vegetal, missal dos troncos. Penitência dos galhos e o rosário vermelho da contrição.

Retorno, na esperança de que ela já tenha desaparecido. Partida tão invisível quanto a chegada. Mas não: a Melancolia tece como uma parca de seu antigo tear envelhecido. Resoluto, sentencial. 

Do meu imenso respeito, ouso oferecer-lhe um chá: talvez lhe convenha a erva cidreira da ternura pacificadora das minhas infâncias.
Sento-me. 

Ainda hesitante e amedrontada, resolvo então fazer-lhe companhia. Estar com ela.
Encontramo-nos uma frente à outra agora: espelho solto entre a ida e a vinda do meu balanço sozinho.
E a Senhora D. Melancolia parece pacientar para ouvir minhas histórias, fazendo ouvidos atentos, se entretendo de mim.







sábado, 22 de outubro de 2016

Vinha

Ofereço-te um pensamento de adocicadas sementes,
lembranças cuja polpa úmida e fresca 
transforma-se.
Em acre amargo de tonalidade profunda e vigorosa.

De ti me lembro e o gosto das uvas abstratas,
dos odores longínquos e tardios

Escolho em ti me deixar perder
Apreciando dócil 
o sabor de me saber poente.







quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Tudo pra você vira texto!

Se eu fosse a um médico hoje! Tá, não seria bem um médico! Tá, eu não sei bem como esse curandeiro se definiria. Tá, tampouco eu não saberia como definir o curandeiro...

Se eu fosse a um curandeiro hoje e esse curandeiro me perguntasse:

"_ Olá, como você vai? Tudo bem? Fale-me de sua infância!"

Não, mas, pera aí... Um curandeiro não falaria algo assim... Só se fosse a um curandeiro freudiano. Aí, quem não iria nesse curandeiro seria eu mesma... 

Pois então... Acho que esse tal curandeiro me perguntaria algo do tipo:

"_ Boa noite, Márcia! Fale-me do seu humor hoje, por favor!"

"_ Meu humor de hoje ou meu humor hoje?"

_" Mas, o que? O uso da preposição faz diferença relevante pra você?

"_ Mas, o que pergunto eu, curandeiro! O senhor está querendo me analisar sob qual ângulo afinal?"

"_ Márcia... Fale-me, por favor, do seu humor hoje ou de seu humor de hoje! Contanto que fale, ora bolas!"

"_ Tá bom! Também não precisa ficar nervoso, pombas! Olha, o meu humor hoje está como se fosse o charreteiro e seu próprio cavalo!"

" _ Hum! Sei, continue!"

"_ Meu humor hoje trafega por uma estrada de terra. Da posição onde me encontro, não tenho uma visão muito ampla da estrada, já que estou focada na qualidade do terreno, sabe?"

"_ E por que você está centrada na qualidade do terreno, Márcia?"

"_ Porque, seu doutor curandeiro, percebo que se trata de um terreno por demais irregular! Meu humor trafega em sua charrete, junto do charreteiro por uma via de terra batida! Que, por muitas vezes, se torna via de terra fofa! Têm também muitos buracos. Alguns com lama! Alguns maiores! Outros nem tanto!"

" _ E o cavalo?"

"_ O que é que tem?"

"_ Sim, porque você me falou da charrete e do charreteiro do seu humor...Mas, algum animal está puxando este veículo, não? Como é isso?"

"_ Ah, sim! Meu humor, a charrete, o charreteiro e o cavalo são um só!"

"_ E como o charreteiro faz para enviar os comandos ao cavalo? Ele bate no cavalo?"

"_ Imagina, o que é isso! Não... Os comandos são dados via pensar sentindo ou sentir pensando! É só o charreteiro pensar/sentir a forma, pensar na velocidade, no ritmo do movimento que o cavalo, muito esperto, já se apercebe!"

"_ Muito interessante!"

"_ Sim! Só tenho mesmo que tomar cuidado porque, se o charreteiro que sou eu mesma pensar  ou sentir muito afoita, o cavalo se assusta e pega a galopar meio desgovernado! Hoje já perdi mesmo umas duas ou três malas!"

"_ Malas?"

"_ É! O mantimento que eu vinha carregando de mim para mim mesma! Na verdade, eram mesmo roupas velhas... Alguns objetos já meio encarquilhados que essas malas, também já bem velhas, guardavam! Me exaltei demais! E, como sou o charreteiro, desgovernei sem querer meu cavalo! O cavalo galopou insano, passou por alguns buracos que se encontravam perto de um desfiladeiro! E! Catapláfiti! Lá se foi a bagagem velha!"

"_ E como você se sentiu ao ver as malas e os pertences perdidos pela estrada?"

"_ Pensei comigo: Xi... Lá se foram as malas! Não tive muito pesar... Acabei entendendo que talvez fossem mesmo desnecessárias... Não iam fazer falta pra onde eu estava indo! Mas, como ia dizendo: meu humor trafega por estrada de terra, de terreno muito, mas, muito irregular mesmo! A todo momento, tenho que dizer pra mim: "_ Segura firme, Márcia! Outro galho caiu na sua cabeça!" "_ Segura firme, Márcia, tá chacoalhando um pouco a mais! Tudo bem que o sol está mais quente e a poeira levanta mais do que ontem!" "_ Segura firme, Márcia!" "_ Segura firme, Márcia!". Cansa, né curandeiro?!

"_ É! Cansa um pouco sim... Mas, você sabe pra onde seu humor está guiando vocês? Ou você está guiando seu humor?"

"_ Taí uma pergunta interessante! Às vezes, creio que ora um guia o outro, ora o outro guia o um!"

"_ Sim..." (O curandeiro anota alguma coisa...)

"_ Mas, tenho a impressão de que ambos caminham para um lugar muito bom!"

"_ Ah é? Então, a viagem por esta via irregular tá valendo a pena?"

"_ É...parece que sim, viu..."

"_ E pra onde vocês estão indo, Sir?"

"_ Hum... Olha, eu imagino uma cachoeira! Uma grande e alta cachoeira, cujo riozinho é bastante cristalino e refrescante! É um belo lugar sem muriçoca! Sem gente também!"

"_ Não tem ninguém?"

"_ Não! Não tem!"

"_ E você pode presumir o que você sentirá quando chegar lá?"

"_ É difícil definir previsões, né, curandeiro? Acho que terei vontade de mergulhar nesse riozinho! O Lugar é mesmo bonito e aprazível!"

"_ Mas, por hora, o humor está estrada de terra esburacada? Nada de humor cachoeira por enquanto?"

"_ Pois é! Nada de humor cachoeira! Às vezes, posso sentir alguma névoa..."

"_ Como assim? O lugar está perto então?"

"_ Eu não sei... Pode ser antecipação de humor cambiante! Melhor aguardar e dar água ao cavalo! Às vezes, ele cansa e eu nem percebo!"

"_ Prefere dar água agora?"

"_ É! Acho que sim! Licença de apear?"

"_ Por favor!"

"_ Tudo bem! Foi boa a conversa, mas, não tô a fim de dar carona! Mesmo pro senhor curandeiro que não é freudiano!"

"_ Sem problemas! Minha via é pra outro rumo mesmo!"

"_ Certo! Noite, então!"

"_ Noite! E olha, aproveita ao menos a paisagem então! Olhe de vez em quando pro lado! Deve ter árvore com sombra, passarinhos, céu azul! Nuvens... E, assobiar independe de buraco, terreno irregular! Pode escolher o silêncio se quiser! Mas, olhe para o lado, para cima! Não só para o chão! 

"_ Olha... E não é que pode ser uma boa?"

"_ Se quiser, nem olhar precisa... Perceber a névoa não precisa de olhos! Eu sendo você, de vez em quando daria uma fechada nos olhos! Só ouviria! Talvez se o charreteiro ouvir certos sons que lhe façam bem, o cavalo também se acalme! Cavalos são bons com sons! São sensíveis!"

"_ É... São mesmo!"

"_ Assim, a charrete também se apruma melhor, né não? E o charreteiro, de olhos fechados, pára de tentar a todo custo estar no controle!"

"_ É... bem pensado! Ou sentido!"

"_  Controlar o chão, a quantidade de buracos... Não sei... Não me parece algo verdadeiro! Ou saudável!"

"_ Pois é..."

"_ Então... era só o que tinha a dizer por hoje, mas, disso tudo você já sabia!"

"_ É! Já sabia! Mas, não custa nada o senhor lembrar, né?"

"_ Não, não custa! Visita em casa de curandeiro é sempre de graça!"









Postal


"Je n'ai pas plus fait mon livre que mon livre m'a fait. Livre consubstantiel à son auteur" (Montaigne)


O canto dos pássaros orquestrado por uma espécie de silêncio fúnebre.
Desses silêncios  que se fazem na ocasião do sepultamento daqueles que amamos ou amávamos ouvir. (Mas, hoje não é Sexta-Feira Santa).
Olho as formas mudas e quietas, as quais imagino ruminar lembranças de passantes que pisam o simpático tapete azul, sem ao menos se condoer com o fato de ferirem sua cor.
A textura fria de alguns objetos. A tímida suavidade de tudo que é concreto e que, no entanto, não respira.
Lembro.

Com o indicador esquerdo toco a própria mão direita que me observa de um gesto tão familiar e que somente agora vejo... Olho para esses dedos e sinto pena do que não sei.
E de novo. Eu sinto.

Ímã que abarca meus olhos, desmagnetizando a vontade das minhas retinas de continuar a se por sobre tudo que não seja a tua ausência.
Ausência lunar,
Baía.
Porto, velas, 
Incenso dado ao mar,
Embarcação.
Eu espero o retorno de um soldado posto a fundo. 
Eu espero o aceno da assombração indefinida que não deixei de amar.

Eu espero.
Eu espero.


segunda-feira, 10 de outubro de 2016

A secreta experiência das coisas.

Estava eu procurando um texto chamado "Da solidão" de Cecília Meireles. O caminho que me levou a querer revisitar a crônica foi uma outra solidão: a solidão do ensaísta Michel de Montaigne que, há algumas semanas, tive o prazer de visitar e amar. 
Pensei que talvez pudesse ser interessante colocar uma solidão na frente da outra. E deixar meu ser pequenino lá, observando a conversa solitária dos dois artistas. 
É bem possível que o resultado da soma da solidão de Cecília e de Montaigne  não seja exatamente um diálogo. Como o assunto aqui não é matemático, o que  nos faz erguer as mãos aos céus, entendemos o encontro como uma mútua apreciação de dois monólogos silentes. As palavras aqui se põem quietas e contemplativas, posto que as reflexões emanadas delas são infinitamente maiores do que seus sons, suas formas ou suas caras.

Mas, estava eu procurando o texto "Da solidão" de Cecília Meireles...

O livro onde a crônica se encontra se chama Escolha seu sonho. "Da solidão" se situa no logradouro página 39, à direita de "Vozes de Humaitá" e a quatro quarteirões laudas de "As meninas dos Hospitais". 
Dado o estilo da redondeza, não é de se estranhar a natureza erma do texto "Da solidão"... Pois para se ouvir as tais vozes de Humaitá (crônica vizinha) há que se fazer silêncio! E ainda, o mesmo silêncio é solicitado quando estamos próximos às paginas onde se encontra "As meninas dos hospitais" ! Pois bem...

Estava eu procurando "Da solidão" e, felizmente, encontrei a beleza: 

"Tudo palpita em redor de nós, e é como um dever de amor aplicarmos o ouvido, a vista, o coração a essa infinidade de formas naturais ou artificiais que encerram seu segredo, suas memórias, suas silenciosas experiências."


Depois dessas frases, minhas pálpebras ergueram-se e depois baixaram, enquanto eu ia deixando meu ser pequenino lá, a se observar pelas palavras prenhas de pensamento (paráfrase de Guimarães Rosa?) como são as  de Cecília Meireles.

"_ As silenciosas experiências das formas..." Pensava lenta e silenciosamente comigo... 
Foi quando encontrei o "Manual do Motorista" da minha avó, guardadinho bem no meio do Escolha seu sonho. E a primeira divagação foi interrompida para dar lugar à segunda:
"_Com tantos silvos, a contracapa do antigo manual mais parece o "Cota zero" do Drummond!" Pensava outra vez lenta e silenciosamente comigo...






"Tudo palpita em redor de nós"... 

Meu Deus! Súbito, constatei que os objetos têm mesmo secretas experiências e que ainda por cima fazem aniversário! 

O nome da minha avó grafado com sua própria letra noticiava: 

10/10/1968

Isso queria dizer que, há exatamente 48 anos, minha avó materna decidia estudar as regras do trânsito para poder tirar carta! 

Orgulho dessa avó que, aos 53 anos de idade,  seria futura motorizada no passado! (Seu exame aconteceu em janeiro de 1969)

Revisitando o manual em 10 de outubro de 2016, no aniversário de sua decisão, recordei sempre ter ouvido que minha avó gostava muito de ler! Professora, leitora, motorista independente, certamente ela deve ter trafegado por muitas páginas logradouros! Se dirigisse pelas ruas de Escolha seu sonho, tomaria muito cuidado no cruzamento entre "Da solidão" com a "Vozes de Humaitá". Ética, 
respeitaria os doentes e os convalescentes de "As meninas dos Hospitais". Perto de suas dependências, ela jamais teria acionado a buzina.










segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Variações sobre um mesmo tema - o amor


"[...] e o amor me parece menos traído pelo amor do que pela mentira."
(André Comte-Sponville)

Discorrer sobre o amor.
Pensar o amor.
Ousar falar... de amor...
parece-me que a pretensão sempre precede a vontade ou que a vontade sempre se subjuga à pretensão. É como se o texto, coitadinho, antes mesmo de iniciar, já estivesse fadado ao fracasso.
Mas, talvez essa estranha conhecida sensação se deva ao fato de não falarmos mais de amor há muito tempo...

Amor: "fogo que arde sem se ver". E deixemos o acontecimento mesmo assim: imperceptível, despercebido, no mais tardar da situação - sóbrio. Do contrário, seríamos vistos como melosos, chorões, ridículos, carentes, repetitivos, ilógicos. Não que sentir amor descarte todas essas possibilidades! Mas, o problema está em justamente SER tudo isso!E qual louco admitiria uma barbaridade dessas? 

Aqueles que se aventuraram em reconhecer devem ter sido achincalhados ou rechaçados! Pois, um ser em seu juízo perfeito (com compromissos e contas) jamais exporia algo de proporções tão constrangedoras: A necessidade de amor e o medo de não merecer e nem se sentir amado. 
Tal fragilidade é tão escandalosamente vexatória, que sempre se fez urgente esconder sua cara de aberração, seus ares de aborto mal sucedido.

Ser frágil na ordem dos humanos é proibido.
Não devemos demonstrar medo sobre o planeta Terra, sobretudo, quando se trata deste trambolho fora de moda a que chamam de ...aff... Amor! Dessa estupidez que já foi usada em letra de música boa e ruim; que já rendeu pequenas, médias e grandes bilheterias; que já foi até pintado a óleo sobre madeira, guache e canetinha hidrocor; que já inspirou peça de teatro, passando por novela das oito, pra depois servir de trampolim para pornochanchada.
É...Definitivamente já usaram muito o amor!

E quando a coisa fica desgastada, ou trocamos ou inutilizamos a coisa! Porque a coisa fica sobrando e todo mundo está de mãos ocupadas, sem qualquer espaço disponível e muito menos com lugar no fundo da gaveta.
Vai pendurar na parede da sala? Mas, o amor não fica bem nem como papel de parede! Que dirá desarranjado ao lado do sofá suede, atrapalhando o aparador e o art retrô do abajur!
Melhor nem mencionar pra não perder dia de serviço!
Amor: "contentamento descontente" para o qual nunca houve tempo hábil!

Ou talvez, eu nunca tenha me dado conta de que o amor sempre foi visto como acompanhamento para algum objetivo, plano ou até mesmo adereço.
Amor para casar; amor para ter filho.
Amor para não ficar só. Inclusive nas festas de confraternização em família ou com a equipe de trabalho!

Amor erótico, erotizado, erotizável.
Amor irrealizável, não viável, desviável.

Amor: compartimento sentimental em que cabem duas pessoas quando o assunto é matrimônio.
Divisível por homem e mulher, cuja a finalidade da reprodução garante os herdeiros e a preservação da família e dos bens.
De faixa etária compatível entre os interessados, de estatura corporal, cultural e financeira condizentes com o perfil dos participantes.
Amor com ajuste de cor, raça, credo e menu de programação com poltrona reclinável.
Amor: compensação do trabalho com uma contrapartida vantajosa.


Ousar falar de amor parece-me escapar de todo e qualquer tipo de conclusão.
Pelo fato de por a vontade pretensiosa, um texto sobre o amor há de terminar mesmo torto! Torto e desengonçado como é falar dele, concluí-lo.
Só não é mais torto e vergonhoso do que senti-lo.
Amor: "ferida que dói" e que se esconde.


Fonte da ilustração: http://eraumavezcamoes.blogs.sapo.pt/2011/02/14/

Camões e sua Dinamene que foi preterida e relegada ao afogamento, visto que Os lusíadas é uma das epopeias mais importantes da história da literatura ocidental.

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Lero com o vento


Não me venha com esse estilão de "um vento com todas as almas" que eu conheço você! E, definitivamente, você não faz o gênero Grande sertão: veredas, meu velho...
Sabe por quê? Porque o vento do interior tem sempre essa mesma cara! Sempre essa mesma ideia! Enxugar tão completamente, mas, tão completamente o ar que o árduo trabalho da chuva de tentar banhá-lo um pouco se põe completamente perdido!
É...Vão dizer aí que tudo não passa de generalização de gente calorenta como eu! Tá bom! "O vento só fala do vento." como diz o  mestre Alberto Caeiro! Mas, moro no interior há mais de 30 anos e, até agora, foi raro ver algo diferente de: chove. Refresca (ah, que amor!). Vem o vento. Enxuga, seca, resseca o ar. Varre a umidade não sei pra onde. Deixa o céu azulíssimo! (não se fie nessa beleza) Depois esfria. Esfria mesmo de bater o queixo. No dia seguinte já menos frio. E aí as temperaturas começam a subir, a subir e de tão altas que ficam, a gente toma aquele porre de  calor! Depois do vento vem o calor! E ponto! E muito, mas, muito calor mesmo! De verdade! Com certeza absoluta! É isso mesmo de novo! Pleonasticamente fervendo! Do insuportável redundante!
É por isso que não vou com a fuça desse vento travestido de Guimarães Rosa! A mim não engana! Só me causa fastio mesmo...


                                       
                       Zéfiro: o vento cortante de "A Primavera" de Boticelli

terça-feira, 20 de setembro de 2016

"Alegoria do triunfo de Vênus"

Olhe e veja. Deixe-se olhar e ver.





Soube que Agnolo Bronzino - autor da "Alegoria do triunfo de Vênus - pintou este óleo sobre madeira no século XVI (1540-1550). Parece mesmo que a tela é desta época?

Hoje pela manhã, o ar se pôs mais fresco depois da chuva de granizo de ontem.
Não sei por que razão a disposição das cores e a calma da umidade me fizeram lembrar do beijo entre Cupido e Vênus. Não sei...Simplesmente deixei-me levar pela vontade de visitá-lo e de me permitir ser visitada e vista por ele.

Talvez a mansidão da quentura do sol, penetrando pela copa da casa misturada a certo vapor liberado pela presença de nuvens... Talvez a vontade de tornar belo o comum dessas horas... O visgo fresco dos dois lábios macios, parecendo-me gosto tépido e molhado de pele em calda, sequestrou-me das ocupações que tardo a começar.

Salvei minha existência, por breve instante, do imediato das urgências. 
Agora, amaciada por uma espécie de transgressão ingenuamente incestuosa, diabolicamente indefensa e pueril, motivo-me a dar continuidade a meu ser responsável - aquele que respeita os prazos e o inadiável dos compromissos.

***

ps: Você não precisa ir até a National Gallery em Londres para visitar a "Alegoria do triunfo de Vênus". Se puder, que bom! Mas, a impossibilidade de vê-la in loco lembra o seguinte:

"Para que se tenha uma ideia nítida a respeito de algum livro ou de determinado quadro, é necessário possuí-los. Quadros expostos em galerias, visitados ocasionalmente nos confundem [...] não conseguimos estabelecer uma intimidade intimidade [...] sempre os tratamos cerimoniosamente, à distância." (Rilke - O diário de Florença)

sábado, 17 de setembro de 2016

Seu vovô subiu no telhado (refeito)

"Nunca conheci quem tivesse levado porrada.

Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo." (Álvaro de Campos)


Ontem, eu tinha escrito um texto sobre minha simpatia por coleções. A ideia de escrever originou-se da constatação diária de como tenho facilidade para derrubar, espalhar, me perder, cometer gafes, enfim, para uma série de ações marcadas pelo enxovalho**. Parafraseando Álvaro de Campos, o rapaz do enxovalho, esse meu lado derrubão enrola com enorme facilidade "os pés publicamente nos tapetes das etiquetas". O que, pra dizer a verdade, acho ótimo: no caminho dos gauches tem menos trânsito e mais ar puro. A maioria aspira mesmo ao aplauso.
Acontece que, acidentalmente, eu apaguei o artigo anterior em que havia esta coleção de que falei! Foi chato porque tive que escrever tudo de novo! E como o tudo de novo não existe, cá estou reformando a ideia.

O eufemismo... Figura de pensamento que eu adoro, que eu acho bonita!
O eufemismo é a habilidade de suavizar uma notícia chocante, desagradável! Tipo aquela de dizer que seu vovô subiu no telhado. Ou que ele está com um pé na cova e o outro numa casca de banana, sabe? Para usar o famoso dito popular! Aliás, 'Seu Dito Popular' seria um excelente nome para minha loja de 1 a 10,99! Mas, sou péssima com vendas!Quando vejo já estou doando...
Pois é... Ontem, na hora do almoço, eu fui passar a refeição aquecida para outro prato quando (previsivelmente) eu derrubei a casca do filé à parmegiana de frango (não como carne vermelha e evito comer carne em geral, por isso como a casca com o queijo e o molho) na mesa e em cima da toalha! Foi um vermelho tomate pra tudo quanto é lado! Aí me lembrei: "_ Márcia, é por isso que nunca lhe chamam para almoçar com a rainha Elizabeth! Que horror mais esperado este seu! Hum... Olha, bem que você poderia selecionar a cena para um eufemismo..."
E, voilà Fui fazer a listinha da minha coleção de eufemismos!








1. Derrubar, deixar cair:
Prestar tributo incondicional ao inevitável da gravidade.

2. Se perder:
Optar por atalho nunca antes catalogado, até então ignorado.

3. Se esquecer:
Exercer a virtude do desapego partindo do pressuposto de uma memória arejada e nada convencional.

4. Cometer gafes:
Expressar-se por meio de franqueza por demais espontânea sem o uso do cinto de segurança (bucal, no caso.)

5. Sofrer de fobia ou preguiça social:
 Evitar ocupar o espaço dos bem dispostos.

6. Recusar trajes formais:
Militar contra o uso de acessório sádico ou claustrofóbico (salto alto é um exemplo).

7. Sofrer do mal da timidez excessiva:
Incubar ideia para proveito próprio.

8. Procrastinar:
Evitar o mal da ocupação súbita.

9. Irritar-se, irritar-se, irritar-se:
Expressar-se por meio de humor inflamado em constante expansão.

10. Trocar o nome de outrem: (variação de "Cometer gafes")
Reconfigurar verbalmente o nome com a cara.


**enxovalho é termo encontrado no "Poema em linha reta" de Álvaro de Campos. Para esse poema nosso textinho pede bênção.

Lista de músicas (MPB)

De novo, o humor comporta-se feito gato. Arisco e desconfiado.
O humor muda de cara como: "eu vi El Rey andar de quatro, de quatro caras diferentes." 
Ora é nuvem que deseja se fazer chuva, mas, evapora porque outra vez mudou de ideia.

Fico mais dispersa do que o normal quando esse humor se evade de mim e ao mesmo tempo me leva para um onde.
Lembro-me de meditar. Lembro-me de me aquecer, indiferente ao suspiro e a seu peso que me conduzem não para o rés do chão onde alguma face desconhecida encosta seu lado direito. E olha. Perplexa amargura perfilada e órfã.


Montaigne, no ensaio "Filosofar é aprender a morrer", diz que quando nos dedicamos a leituras, a estudos é possível pôr-nos para fora de nós mesmos. Eis aí uma espécie de morte. 
Leio Montaigne para ele me ensinar a fazer as pazes com a melancolia e também para sadia e conscientemente morrer para fora.
Presumo que quando morro para dentro eu adoeço e há tempos que venho tentando viver mais organicamente, sem apressar mais nada. Aprendendo a deixar à guisa do tempo (o que não é fácil pra mim).

Então, para me distrair e dar alguma direção a meu ser dispersivo (porque melancólico), ensaio fazer uma lista de músicas das quais - quando inorgânica - gostarei de me lembrar. Se me perguntarem o que significou música para mim na Terra, eu responderei: 'todas as boas músicas' (como Cecília Meireles disse "todos os bons poetas" quando a questionaram numa entrevista sobre seus poetas prediletos). Ih! Dispersei de novo! Era para me distrair fazendo uma lista, não é verdade? Pois, antes que o humor se evada de mim e me conduza para um onde, trato de fazê-la. Certamente, não vou me lembrar de todas as músicas amadas. Provavelmente, na ocasião de outras crises de melancolia, existirão novas listas. (Será?)

MPB

1. "Guarde nos olhos" (Ivan Lins e Vitor Martins) (Essa seria para o funeral poético) :D


2. "Luz e Mistério" (Beto Guedes e Caetano Veloso) .Com a Zizi Possi também é linda!





3. "Nada será como antes" (Milton Nascimento e Fernando Brant) (A lista inclui todas as músicas cantadas por Elis Regina, tá?)





4. "João e Maria" (Praticamente todas do Chico Buarque, viu?)


5. "Estrada do sol" (Tom Jobim. Tem um monte dele!)




6. "Refazenda" (Gilberto Gil. Olha, claro que têm outras inúmeras. Mas, hoje sugerimos essa pintura aqui!)


7. "Oração ao tempo" (Caetano Veloso. Outro que a gente escuta tantas e tantas! Baiano phodah e todo mundo sabe disso.)


8. "Explode coração" (Maria Bethânia interpreta Gonzaguinha. Simplesmente divina!)




9."Paciência" (Lenine)



10. "Viajante" (Não sei quem é o compositor. Mas o gênio que canta é Ney Matogrosso!)



11. "O velho e a flor" (Vininha)



12. "Travessia" (Do Bituca é fó escolher!)