sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Entre a Górgona e Baubó.


Outra vez, vi-me refém do que senti e me assustei. Vinha eu pela copa, quando - repentino - deparei-me com o computador hospedeiro de um e-mail que significava outro compromisso! Logo eu! Se não tivesse ido beber água numa caneca, eu não olharia para o computador hospedeiro e, muito menos, vislumbraria uma das horripilantes facetas da Górgona!

Não importasse aonde eu fosse - lá estava ela a me petrificar! No lençol desarrumado, pelos travesseiros...  Até mesmo no vaso sanitário!
Inutilmente, tentei fechar os olhos. E o fiz... Mas, sussurrando, a Górgona me vinha com umas perguntas esfíngicas, daquelas neuras do tipo "Decifra-me ou te devoro". 
Passei o dia tal como a coxa de um frango... Um contrafilé muito mal passado... Sei lá, talvez uma carne de pescoço... A Górgona temperava-me com muito coentro ( "coentro" me remete à ideia de amargura, sabe lá Deus o porquê disso!)

Chorei muito! Olhava para mesmice do que eu não fazia sentido pra mim... 
Pensei em "saudade cósmica", mas, meus destinatários fantasmagóricos não deixaram qualquer endereço para o envio das minhas lágrimas missivas!
Desisti.

Pus os pés na terra, os artelhos por entre o gramado. Formigas, abelhas, pragas e pólen... Sorri!
Mal podia saber que, ao sentar no degrau da pequena escada, eu encontraria o apego a um pedregulho... De novo a tal da cristalização. E a Górgona!
De nada adiantavam as formigas, nem as abelhas... O frio nem mais se contrariava sob o mormaço... E o que diriam as nuvens me vendo naquele estado? Também não me importava aquela opinião ora rarefeita ora desabante!

Resolvi ligar a tevê. Assistir a novelas antigas! Sorri algumas vezes.  Mas, aí, ao cabo do capítulo, novas lágrimas! E a Górgona! Enfeitando minhas olheiras. Reivindicando novas rugas...
E se eu tomar um café com pão com manteiga na padaria? Que Górgona resistiria a este mimo? A minha! Pois foi a ação de voltar para casa e me ver sozinha, para me ver prostrada no escuro, ou melhor no semiescuro - esconderijo dos vermelhos do poente.
Foi quando, numa tentativa de ultimato, decidi me valer das arapucas filosóficas! Talvez a Górgona gostasse desses entretenimentos, afinal, desde a Grécia antiga que tentam explicar ou desenhar as dores que nos fazem existir assim: tão lacrimosamente... (pensava comigo).
Apelei para palestras virtuais...filósofos contemporâneos...
Falaram de Aristóteles... Hum! É... talvez...
Depois do moço do pessimismo elegante e genuíno chamado Schopenhauer... Oba! Esse aqui faz mistureba entre vontade, representação, melancolia e tédio... Já tão falando a língua que eu arranho muito mal...
E, na sequência: Bum!!! Nietzsche!! A imaginação ! A criação! 
Como não me lembrar de Cecília e do truta chegante Baudelaire?
Foi então que houve a miraculosa menção à Baubó! A Figura mitológica capaz de defrontar a Medusa com seu deboche! Epa! Lembraram-me de uma outra eu que esperava desanimada no banco de reserva!
Olha, eu poderia explicar  a origem destes personagens... Mas, hoje não! Procurem  no tio Google! Não sei se vocês têm o ingênuo hábito de encarar a Górgona, lidar com a tal sem qualquer tipo de artifício...  Bem, talvez a pesquisa os ajude na defesa frente ao monstro... Boa sorte!

Por hoje, após tanta fadiga, só desejo mesmo contemplar o que há debaixo da saia de Baubó! 
Para minha graça, a velhinha sapeca fez-me lembrar do quanto isso tudo pode ser ridículo! Trágico! Risível!
Um pouco mais consciente, rio agora das passagens desse dia repleto de forças gorgôneas que, aliás, se finda em deboche 'baubóstico" (diga-se de passagem!)
Salvei-me!
Vamos ver as cenas dos próximos capítulos em que, possivelmente, haja novos surtos existenciais... 
Como me portarei diante do encontro dessas duas senhoras que fazem de mim o que venho me tornando?
Quem viver, não sei se perde ou não por esperar...
(Já avisamos que qualquer semelhança com a ficção não é mera coincidência.)
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"Górgona" - Da Vinci

Resultado de imagem  Uma das representações de Baubó.