quinta-feira, 27 de abril de 2017

sábado, 22 de abril de 2017

Por onde andará a minha alegria?

"Querer bem as minhas alegrias." (Guimarães Rosa)

"Retirai-vos em vós, mas, preparai-vos primeiramente para vos receber. Seria loucura fiar-vos em vós mesmos se não sabeis vos governar." (Montaigne)


Eu não posso ser a sua alegria. Nem você a minha! O que podemos fazer é trazer para perto a sua alegria da minha, não é mesmo? Mas hoje, eu não sei aonde a minha alegria foi parar. Acho que foi dar uma volta e até agora não voltou pra casa. Onde será que ela está numa hora dessas?
É bem provável que esteja em algum lugar bucólico... É a cara da minha alegria fazer isso... 
Um lugar bucólico em que o sol não é quente. (Aquele quente que torra as folhinhas e a paciência da gente). Um lugar em que há montanhas robustas e altas. Um lugar-comum paradisíaco onde o capim é extremamente cheiroso e muitas borboletinhas pequeninas. Talvez sejam vermelhas ou amarelinhas. Existe um córrego ou um riacho, minha alegria não me comunica ao certo. Mas, há um caminho percorrido por água azul geladíssimo safira. A água se desregulariza por conta das pedras que não são tão grandes não!
O sol aquece à maneira como eu escolho que ele aqueça. E não há ninguém comigo...
E é sempre assim! Sempre que imagino o estado da minha alegria, acontece o sentimento espaço da solidão!
Talvez minha alegria seja assídua leitora de Rousseau, embora não saiba os devaneios de cor e salteado. Minha alegria talvez ande discípula (ou talvez, sempre o tenha sido inconscientemente) dos ensaios de Montaigne e acredite que minha alma possa mesmo se fazer companhia.
Minha alegria anda longe...bem dentro de mim, à espera de que minha alma se prepare - cada vez mais aos pouquinhos - para enfim o reencontro cara a cara.
Minha alegria anda escapando para algum lugar de mim que conheço muito muito pouco, pois ninguém me deu qualquer mapa ou planejamento de nada. Muito menos de como saber do paradeiro da minha alegria! 
Ninguém me disse "Vá para esquerda, a alegria tem cara de ser canhota!" ou "Vá para direita que é onde permanecem os eleitos!" "A alegria pertence aos eleitos!!!"
Ninguém aqui do lado de fora, onde há ruídos que não convêm de forma alguma à minha natureza, sabe dizer se já se sentou ao lado da própria alegria para um bate papo em silêncio absoluto! Aliás, as pessoas daqui do lado de fora também não falam de suas tristezas, nem mesmo na intenção de aprofundar o conhecimento de que não entendemos de nada! As pessoas do lado de fora parecem estar certas. Mas, de que exatamente?
Enquanto isso, respeito o conhecido destino ignorado da minha alegria, pois é certo que  não sei onde ele fica no momento! Entretanto,  suspeito da cara dele: as maçãs do seu rosto ficam avermelhadas toda hora com a revoada das borboletinhas.

terça-feira, 11 de abril de 2017

Desarticulações.

O ritmo cadenciado deste cursor faz com que diante de minha imaginação se abra uma espécie de portal. E tal qual àqueles dizeres que se encontram nas catacumbas, nele existem algumas palavras-convites: "Expresse-se".

Eu poderia contar sobre várias coisas: como às vezes tem sido difícil ser eu mesma, no equilíbrio/desequilíbrio em cima da corda bamba de todos os dias; eu poderia em vão dissertar sobre minha ignorância sobre as posições astrais, sobre a metafísica planetária vigente, bem como suas influências sobre este ser pensante excessivo; eu poderia lembrar por meio da grafia das letras que foi numa Semana Santa longínqua que li pela primeira vez Sonhos de uma noite de verão. 
No entanto, decido discorrer sobre o Amor.
Sobre qual deles? Pois há tantos... e tantos são um só. E, no entanto, desconhecemos profundamente todas as naturezas.
Na minha loucura que deseja ser poética a todo instante, penso que talvez todo ser humano deveria cultivar  - pelo menos - dois amores: Um amor compartilhado, possível; outro amor em estado de suspensão (na mais suprema ambiguidade que este termo suscita).
Há o amor de todo os dias e noites e manhãs. O amor do desafio da redescoberta. O amor que compartilha torradas e que não faz silêncio quando deveria. O amor que dorme ao lado quando os olhos despertam e que nos abriga. O amor que acolhe e briga de vez em quando. Que entra e sai de crises. Que caminha - mesmo que não saibamos muito bem pra onde.
Esse amor nos brinda com sua segurança. E nos convida a pensar sobre sua ilusão de se por sempre da mesma forma.

O segundo amor: não existe. Ou melhor, existe! Ou antes: existiu, deixou de existir, existirá pretérito em alguma reencarnação milenar. Parou de ser real futuramente. Amor de verso livre, rima branca, pobre, burguesa, aristocrática, depauperada. Amor de luar, não de lua. Amor... que se senta nas folhas noturnas de uma árvore que um dia já deu flor. E que não espera pela primavera de forma consciente.
Que tinge de sentir porque assim o escolhemos.
Que tinge de lembrar porque assim o aceitamos.
Amor pra se ouvir na canção o que se inventou e onde nos perdemos. Porque é recusa do atalho - essa sim consciente.
Amor pontiagudo. Pungente, pingente, cortante diamante. Estrela de qual grandeza maior que o sol?
Eu pontuo o finalmente sem conclusão. Estou dividida entre a introdução e o final.
Não finalizo nunca.



Detalhe:  "Triunfo de Vênus" - Bronzino (1540-1550)