terça-feira, 26 de junho de 2018

Percurso

Procuro, procuro, procuro...
solto,
consinto, 
sigo

O que sou eu,
dá um jeito de me achar.

terça-feira, 5 de junho de 2018

Tristeza abstêmia.

Não me lembro se foi Platão ou Plotino ou Sócrates que disse que nascer, isto é, estar na vida, é de fato estar morto. Creio que eu tenha ouvido em alguma conferência essa afirmação de que nunca mais me esqueci. Sou alguém que tem grande facilidade pra se colocar triste. De repente, a tristeza mora ao lado. Mora em frente ou vem sentar-se junto de mim. Tomamos chá, comemos bolacha. Não assistimos a filmes nem a séries de hoje em dia. A tristeza é tão amiga íntima, que escrevo este texto com o "nós". A tristeza e eu. Eu e a tristeza. Tento me lembrar agora, quando foi que eu a conheci. Acho que desde que me conheço por criança.
Inspirada por Proust que aprendo a conhecer, aproveito sua visita para sondar, entender o que é que comigo se passa... E a tristeza de hoje - nem sempre acompanhada dele, mas, hoje sim, vem ver-me junto com um sono secular -  o que me faz lembrar  de Fernando Pessoa, Álvaro de Campos, Bernardo Soares. Eu bem poderia consultar algum caderninho para transcrever aqui suas palavras. Mas, como já disse, estou com sono e estou triste. Eu estou triste e estou com sono. E, é bem capaz que eu durma quando eu me virar pra ir atrás do caderninho. Aliás, já sinto um bocejo sem forma. É melhor deixar pra lá.
Uma vez, estava lendo as correspondências que a Cecília trocou com uma amiga. Lá foi a primeira vez que li o termo "distúrbios vagotônicos". Essa expressão me chamou tanto a atenção, que fui pesquisar mais a respeito pela internet afora. Descobri que Vinicius de Moraes sofria de vagotonia e Aracy de Almeida também. Eu poderia transcrever aqui o significado de "distúrbios vagotônicos", mas, estou com sono e nem sei mais se estou triste. É...a tristeza minha muda de cara, de roupa, de forma, de discurso: muitas vezes se transforma em música (mal tocada ou bem ouvida). A minha tristeza se transforma em texto que gosto e desgosto, às vezes se transforma em sono mesmo, mas, sua constância em mim se apodera de um enorme silêncio. Um silêncio que abre um livro qualquer de pintura ou de poesia.

O fato é que o fato de minha tristeza, hoje, veio ornado de gravata borboleta vermelha e paletó gris. Não estou certa se o acompanha o chapéu côco (é bem provável que o fato da tristeza seja completado do chapéu côco...) E muitos pensamentos aparecem...Eu poderia transcrever e discorrer aqui sobre a coleção favorita de pensamentos que, distraída e apaixonadamente desenvolvo. Mas, minha tristeza  - que, aliás, creio que já se sentou mais pra adiante porque entediada com toda essa expressão mal posta - mudou outra vez. Acho que até dobrou a esquina. Que esquina? Hum...deve de ser a do ângulo de palavras esquisitíssimas. O canto onde giram todas as incoerências. A esquina onde se espera o pasmo diante do nada que é estar morto quando se vive. Que coisa! E que coisa é lutar nessa experiência de morte da total integridade - que é viver -  com o intuito de manter minimamente a natureza íntegra. QUE COISA! Interessantíssimo tudo isso. É!
Bem, acho que não escrevi tudo o que queria,  muito menos do jeito que esperava! Mas, tudo bem também. Pelo menos, sinto-me menos desacompanhada da minha tristeza. Essa tristeza minha que jamais saiu pra comprar cigarros e nunca mais voltou!