terça-feira, 2 de agosto de 2016

Querer trazer o mar pra casa

Que é impossível todo mundo sabe!
Não é possível trazer o mar pra casa. E muito menos estabelecer uma relação afetiva do tipo "Namoro na TV" (Vixe! mas, que programa mais velho! E pra falar a verdade meio deprimente! E cômico! Apresentado pelo Sílvio Santos, tendo como trilha sonora as músicas do Julio Iglesias! Por que fui me lembrar disso?!)
Não! Definitivamente, não dá para estabelecer uma relação amorosa com o mar ao estilo de "Namoro na TV"!
Mesmo assim, mentalmente, eu ainda insisto em querer trazer o mar pra minha casa! E namorar com ele tipo num convívio diário, sabe? E, ainda por cima, colocar o mar pra dormir na cama comigo!E tomar café da manhã para depois pensar o que é que poderíamos comer no almoço!

Ora, o mar e eu poderíamos ler muita coisa juntos! Que ele é fã de poesia, disso eu já sei faz tempo! O mar e eu poderíamos nos lembrar das canções que ninguém mais canta! E, claro, gostaria de saber o que o mar andaria ouvindo pra me inteirar das boas coisas musicais.
É... O mar tem bom gosto!

Há muito, muito tempo que este ser ondulante me ganhou com sua cara de nascer e por do sol ao mesmo tempo. Atirou-me conchinhas assim: tão docemente. 
Criança, acreditei quando me disse que pelas suas encostas sempre haveria noite com estrelas. Constelações marítimas ou siderais. Que eu poderia escolher qual quisesse.
E os olhos do mar? Sempre de alguma forma sorridentes. Loquazes...

Mas, não dá pra namorar o mar, Márcia! O que é que você faria com as arraias nadando no teto do seu quarto? Sei lá, mas, as antenas e os bigodes dos crustáceos poderiam se irritar do dia pra noite! Imagina o imprevisto das reações?! Certamente, existem muitas anêmonas que, de acordo com o natural temperamento incerto, poderiam ser mais urticantes do que de costume! Sem falar da ressaca! Pensa: um belo dia estão vocês estão lá, no maior love e, sem qualquer aviso prévio, lá vem o mar com pancadaria!!
Têm tubarões, lulas gigantes, polvos nem sempre bem humorados! Muito provavelmente, dado o grande movimento de embarcações, sem mais nem menos, você poderia levar uma ancorada na cabeça! E mais de uma vez por dia!!
E, por mais que você tentasse nadar por aquelas águas, na busca ingênua de um entendimento mútuo, o mar jamais se quedaria satisfeito. Suas correntes reversas tragariam você. Talvez para um profundo desconhecido demais para depois regurgitá-la bem direto para as pedras e os rochedos...
É... Não dá para trazer o mar pra casa. Muito menos namorá-lo! Ter filhos! Pensar num natal diferente do convencional! Meditar juntos. Talvez fazer algumas compras para decoração da  casa...

                                            "O mar é só mar, desprovido de apegos" 

Você, sua primeira e terceira pessoa sabem muito bem que é inútil insistir no contrário!
Tá certo! Completamente de acordo, mas o que fazer a respeito da desobediência das vontades? 
Bem, talvez visitá-lo de tempos em tempos, jogar beijos de longe, afundar os pés na areia, sentir a chegada das marés no rosto, e olhá-lo e olhá-lo a não poder mais... (E sempre se pode!)

É! Acho que talvez essa seja a forma possível para não admoestar muito as tão sonhadoras aspirações! A ideia mais plausível para me acostumar em ser sempre inconformada (por não trazer o mar pra casa!)
E, além do mais, fazendo isso, a gente vai levando o mar! Quer dizer, a vida!

A vida! A gente vai levando!



 Ilustração: Lucy Campbell
Site indicado: http://www.lupiart.com/work/
                                     


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