segunda-feira, 25 de setembro de 2017

La Beauté







"La Beauté d'une nature merveilleuse, celle que précisement était le but de tous les efforts précédents.
D'abord, elle est éternelle. Elle ne connaît ni la naissance, ni la mort, ni accroissement, ni diminution. Ensuite, elle n'est pas belle pour une part, laide pour l'autre; belle pour ceci, laide pour cela.
Beauté qui ne se manifestera pas à lui sous forme de visage ou de main ou de rien qui participe au corps. Non plus que sous forme de discours ou de science; et bien en elle-même et par elle-même, coexistant toujours avec elle-même dans l'unicité d'une forme. Alors que toutes les autres choses qui sont belles, qui participent de cette Beauté en telle manière que leur naissance ou leur mort ne Lui apportent ni augmentation, ni diminution, ne l'affectent en rien."

(Socrate)




Doidos favoritos

"Algum velho da minha geração,
uns poucos doidos mansos, e quem mais?"

("Luar para Alphonsus" - Carlos Drummond de Andrade)




"Amanhã, vem-me entrevistar uma simpática inglesa meio louca [...] 
quinta-feira, vou tomar chá com uma portuguesa semi-louca, 
que tem medo de sair de casa; eu só gosto de gente louca, desses loucos mansos,
maníacos que a vida entristeceu, que ninguém atura, e que eu acho encantadores.
[...]
E as suas demonstrações são de maior compreensão que a da gente normal; 
e de uma certa categoria de amor, que os outros nem sonham.
Se eu não tivesse outras coisas a fazer, criava um salão de loucos
para conversar e fazer espírito, como no século 18."

(A lição do poema - Cecília Meireles) (carta LXXX)


quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Fragmento - O Ás de Ouros

O Ás de Ouros

I Acto

I Cena

[...]
D. Dama (com movimento quasi de dansa) - Tens saudade do teu Santo... (examina a medalha, foco de luz na mão dela)
V. [Valete] O meu Santo... (quasi triste) ... que vivia tão alto...
(Contemplam-se profundamente)
D. - Tão alto! (abaixa a cabeça) - pausa - Eu também subo tão alto... Mas sempre volto à terra... A terra está aqui, em baixo dos nossos pés... E estou sempre entre a altura e a terra... Tudo sobe da terra: o circo, o meu amor... já viste essas plantas duras, audazes, bordadas de espinhos ? Essas plantas que não precisam de nada? que nascem da areia?
Meu amor é assim. Mas tem uma carne suave, que estremece por ti, nada o alimenta, e êle não morre.
V. - Chegará também a minha vez de falar. Como tu falas do chão, eu te falarei do nosso vôo, do movimento puro, da nossa presença instantânea sobre o perigo. Não foi para isso que longamente nos construímos? Já viste êsses pássaros que sobem, sobem, e de repente deixam de mover as asas, e caem para longe - quem sabe para onde? Há para os homens uma espécie de liberdade assim. Que deve ser a dos deuses, se existirem... Uma independência da terra.

Cecília Meireles



terça-feira, 19 de setembro de 2017

"Velho estilo"

Coisa que passas, como é teu nome?
De que inconstâncias foste gerada?
Abri meus braços para alcançar-te:
fechei meus braços - não tinha nada!

De ti só resta o que se consome.
Vais para a morte? Vais para a vida?
Tua presença nalguma parte
é já sinal da tua partida.

E eu disse a todos desse teu fado,
para esquecerem teu chamamento,
saberem que eras constituída
da errante essência da água e do vento.

Todos quiseram ter-te, malgrado
prenúncios tantos, tantas ameaças.
Grande, adorada desconhecida,
como é teu nome, coisa que passas?

Pisando terras e firmamento,
com um ar de exausta gente dormida,
abandonaram termos tranquilos,
portas abertas, áreas de vida.

E eu, que anunciei o acontecimento,
fui atrás deles, com insegurança,
dizendo que ia por dissuadi-los,
mas sendo a sua mesma esperança.

No ardente nível desta experiência,
sem rogo, lágrima nem protesto,
tudo se apaga, preso em sigilos:
mas no desenho do último gesto,

há mãos de amor para a tua ausência.
E esse é o vestígio que não some:
resto de todos, teu próprio resto.
- Coisa que passas, como é teu nome?

Cecília Meireles - Vaga música (1942)

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Oportunidade.

Aluga-se criado mudo para livros bem apessoados.
Possível extensão da locação do móvel em caso de romance espesso ou não ficção.
Pernoites para releituras de contos e crônicas.
Cabeceira ilimitada para ensaios e poemas diletos.
O pagamento deverá ser efetuado em anotações parceladas quantas vezes necessárias.
É favor a entrega do estabelecimento na ocasião da chegada à página final.
Grata,
           a traça vegetariana.

Épica grama

O infinito esteve de braços abertos
na discordância embalando a ausência
Sentada a mirar o molhado da terra.

O quente da tarde e a sombra me contando histórias
do cimento tatuado de bolor.
O silêncio num céu azul e o descanso de todos os gritos.
Nada parecia amar o que minhas pequenas mãos desenhavam.
Nada por todos os arredores dos meus olhos.
O caminho de ferro das minhas lágrimas e o adeus invisível perpétuo.

As formigas também caminhavam em linha reta para lugar nenhum.
Meus pequenos grandes olhos vendo para cima.

Um amor que se herdou de música, noite e solidão.
Um amor...
Um amor incompreensível por aquela idade do diálogo dos hortelãs com a grama.

Deixaram caído meu catavento, esquecido junto da roseira cujos espinhos eram tímidos.
Esqueceram de saudar meu amor que não se disse, por medo.

O quarto minguante da lua na ponta dos dedos foi visto por meu olhar perdido.
O vento calou minhas sílabas infantis.
Dormi. Porque sempre me fecharam os olhos.

E não mais.

terça-feira, 5 de setembro de 2017

Teimosa

Esquece: Assopra!
acendeu
Esquece: Assopra!
acendeu de novo
Esquece: Assooopra!!
acendeu outra vez
Esquece! Ass :
 acend...
Assopra!  Assopra!!

Acendeu.
Lembrança acendeu.

Esquece...