sábado, 6 de maio de 2017

"nele descansou depois de toda a obra que empreendera na criação."

O vazio.
O branco incolor da tentativa de alguma expressão.
O pensamento se cala e, no entanto, supõe alguma consciência de algum ritmo indiscernível.
Na rua. Sangue de pólen e veneno. Na rua. Uma árvore ontem abraçou o interstício entre céu e asfalto.
Na rua João de Barro é sem teto. Mendiga algum pedaço de terra por aí.
As aves, os insetos, a terra. Tudo está manchado de aço e dentes. Tudo se atropela pela retidão do alicerce.
Quem a mata?
Quem o verme?
Quem deixa suas mãos e braços cansados?
Quem se caleja e deixa pela rua um gosto de amputação lenta?
Tudo se mancha de esquecimento. Tudo se suja, enquanto a respiração não pára.
Há baile na rua agora. Regado a um canto lúgubre de mulher que se veste de deus que crê em sua voz (crê?)
E nada medra.

Escuto.
Estou ordenada a ser servida a este presente que elaboram, ainda que não se dêem conta da profanação desta festa.
Celebram.
Comem.
Engolem.
Pó.
Regurgitam clorofila pisada.
Escuto. Ouço. É necessário estar no agora daqui.
Sou parte da plateia desta arena.
Ao espetáculo hediondo meus aplausos invertidos. Todo meu reconhecimento anti-horário.
Estou presente. Ouvinte intimada.
Minhas mãos escrevem o que nem direito encerram.
Sou eu. Raízes e galhos mutilados.
Eu sinto muito todos os meus pêsames.
Morro também com o peso da chacina de lei por terra.
Sou esta árvore.

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