terça-feira, 17 de outubro de 2017

Aspirante de Perseu.

Alguma coisa morre. e estou em pleno funeral de algo que me embalava.
Pêsames a meus sonhos impossíveis. Sucumbiram soterrados e por isso a alma se queda asmática.
Sou esquife, as flores, as velas que se extinguem e a solidão que entoa preces a ninguém.
A extrema-unção constante de todas as ilusões. 
Ponho os devaneios deitados, a coragem ajoelhada, 
A dor em riste.
Também o corpo se consola imóvel num sono.
Pois ando comovida com meu olhar 
e os lábios...

Algum amor morre e estou em pleno luto em todas as vezes do sorriso.


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"Sobre a relação entre Perseu e a Medusa podemos aprender algo mais com Ovídio, lendo as Metamorfoses. Perseu vence uma nova batalham massacra a golpes de espada um monstro marinho, liberta Andrômeda. E agora trata de fazer o que faria qualquer um de nós, após uma façanha desse porte: vai lavar as mãos. Nesse caso, o problema está em onde deixar a cabeça da Medusa. E aqui Ovídio encontra versos (IV, 740-752) que me parecem extraordinários para expressar a delicadeza de alma necessária para ser um Perseu dominador de monstros: 'Para que a areia áspera não melindre a angüícoma cabeça, ameniza a dureza do solo com um ninho de folhas, recobre-o com algas que cresciam sob as águas, e nele deposita a Cabeça da Medusa, de face voltada para baixo'. A leveza de que Perseu é o herói não poderia ser melhor representada, segundo penso, do que por esse gesto de refrescante cortesia para com um ser monstruoso e tremendo, mas mesmo assim de certa forma perecível, frágil." (Ítalo Calvino em Seis propostas para o último milênio)

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