domingo, 19 de junho de 2016

Balão, família, Chico Buarque e Rodin

Desde os meus tempos de criancinha que eu escuto Chico Buarque. O Francisco Buarque de Hollanda que pensei ser filho do moço do dicionário que consultávamos na escola - o "Aurélio Buarque de Hollanda".

Felizmente, posso dizer que venho de uma família amante de música. É com orgulho que digo que meu pai foi locutor de rádio, vocalista de uma orquestra de baile chamada "Ritmo e Penumbra" e que integrava um grupo de serenata. Confesso que não é sem vaidade que conto que minha mãe canta desde pequenina e que meu avô pensava que ela fosse se tornar cantora lírica. Na verdade, gabo-me de com meus pais ter conhecido: Altemar Dutra, Lupicínio Rodrigues, Vicente Celestino, Nelson Gonçalves, Silvio Caldas, Frank Sinatra, Elizeth Cardoso e Jacob do Bandolim, Eydie Gorme e Trio Los Panchos, Gregório Barrios, Elis Regina (no café da manhã, almoço, jantar e nas viagens de carro), Orquestra Tabajara, Glenn Miller, Perez Prado, Dolores Duran, Dalva de Oliveira, Edith Piaf, Orlando Silva, Gal Costa, Clara Nunes, as italianas da década de 60... Ih! Mas, me perdi na vaidade e na digressão! O assunto é Chico Buarque, não é mesmo?!! O aniversariante do dia 19 de junho de 1944!

Meu primeiro contato com Chico Buarque foi numa reunião de família no quintal de casa. Num almoço de domingo em 1983! (Se não me falha a memória). Um primo de São Paulo, visitando o interior, resolveu soltar um balão em plena cidadezinha! (ideia de jerico). Nos preparativos daquele balão azul (não muito grande), ouvíamos Chico Buarque cantar "Mulheres de Atenas", " O meu guri", "Tanto amar"...
Nova digressão: Lembro-me de que, no lugar de "Em Manágua temos um chico", eu e minhas irmãs cantávamos "numa anágua temos um chico", achando que Chico Buarque falasse de alguma moça que estava "naqueles dias".

Mas, Chico Buarque foi interrompido quando pararam a fita no rádio para que, em coro, entoássemos familiarmente "O balão vai subindo, vai caindo a garoa" 
"- Ai, minha Nossa Senhora!!!" Atropelava repentina e desesperadamente aquele momento junino a minha tia mais velha: o balão tinha se enroscado no fio de alta tensão da rua!
"- Para o assoalho, para o assoalho!!!" gritava  meu pai desesperado para depois correr atrás do primo lá na rua, acho que bem aflito (Só acho! Porque não vi mais nada!)

Não me lembro, do baixo dos meus 4 anos, de como aquele almoço com o balão fatídico terminou! Só sei que ficou na minha memória o Chico Buarque com suas "Helenas" e "falenas" e seu guri com "venda nos olhos e as iniciais". Naquele domingo, registrava-se uma das minhas mais tenras e ternas memórias musicais...


Em 1995, houve uma exposição do Rodin na Pinacoteca de São Paulo. Da minha cidadezinha saiu uma excursão organizada por uma querida amiga, aliás, falecida em fevereiro deste ano: a Cacilda que sempre amou o teatro, a música, as esculturas, as pinturas... Cacilda me apresentou à "Grande sombra", a primeira escultura que víamos assim que entrávamos naquele prédio tão bonito! 




Quando fui arrebatada por aquela estátua colossal, tive meu primeiro déjà vu! Aquela estranha sensação, assim como o caso do balão, também aconteceu num domingo. "Minha história - Gesu bambino" era o tema musical que dava o tom àquela experiência em que me sentia temporariamente suspensa do meu cotidiano de adolescente do interior. Meu compositor favorito cantava para mim do meu moderníssimo walk-man, enquanto da janela do ônibus, eu contemplava a paisagem da estrada.


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