domingo, 10 de julho de 2016

Nada demais.

Passeando de bicicleta, vieram-me muitas reflexões e também lembranças. Tudo se misturava a sensações corpóreas-emocionais, sem me esquecer da pitada do místico que conferia  ao passeio a quentura das palavras de Guimarães Rosa:

"Até para a gente se lembrar de Deus, carece de se ter algum costume."

"_ Tenho que escrever tudo isso! " Pensava eu! Mas, após a semi-vontade, eu já havia me esquecido do princípio. A inspiração se enfraquecia diante da autonomia das imagens.
Para não me perder no que pensei e senti, decidi (não muito articuladamente) dividir as inspirações em itens. Algo que para mim se parece com o balancete mensal ou diário das corporations . Por isso, quando me organizo, me incomodo. Mas, me organizo (e me incomodo). As palavras se apresentam à inspiração seguindo sua lógica de signos e, pelo menos no meu ser, se põem à revelia. (Lamento se houve confusão de conceitos linguísticos! Lamento e prossigo, certo?).

(Soudain, j'ai eu envie de me coucher sur la pelouse et de permettre folle et douce que tu me baises) Mas, isto não estava no script! E os orientalizados têm razão quando dizem que a mente é a louca da casa.

Vejo formigas e penso que está na hora de voltar a desenvolver a ideia inicial. As formigas invadem meu pé direito protegido (felizmente) pelo calçado.
E penso: "_ Será mesmo possível uma reconciliação com esta categoria de artrópode neurótico? Parecem funcionários de multinacionais apressadas! Com a diferença que não usam paletós" (será?!)
Bem... me cansei agora... Olho para cima para lembrar "o que era mesmo".
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Enquanto eu andava de bicicleta, uma pergunta insistente vinha ter com o espírito pedalante:

 "_ Somos parecidos em que com o lugar onde nascemos?"

Tenho para mim, aliás, esta teoria não é minha, que acabamos parecidos com aquilo que fazemos e com o que nos afeiçoamos e desafeiçoamos e votamos a nos afeiçoar. Para ser explicativa: como numa gangorra de sentir e perguntar por que sentiu. (O didatismo também se chama meu nome, posto que me alivio quando as coisas ficam claras para as pessoas. Sou professora).
Mas, sou confusa, porque vivo muito do que eu crio. Porque o que eu crio é uma das tábuas de salvação para não decretar, de uma vez por todas, que viver é um sacrilégio. (!) 

O fato é que olhei para minha cidadezinha do alto do pedal e do bairro meio longínquo onde estava.

O sol, o leve suor no rosto, as árvores que estavam ao longe, as árvores que estavam ao perto, a incidência da luz sobre a tênue camada de poeira, o nada, a quietude de breves frações momentâneas, o espaço não sentir. 
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Eu nasci numa pequena cidade do interior de São Paulo. Nela não há mais o padeiro vendendo pão e biscoito numa Kombi  incrementada. A rua da casa da minha avó... a casa da minha avó - meu asilo político aos cinco anos de idade (a crise da tenra idade).
§

Gosto de Descalvado. Canso de Descalvado. (Faço as pazes com Descalvado?)
Descalvado com suas imensas residências assobradadas. Fortalezas de vidro, grafiatos que, ao cabo dos tijolos dos muros, existe um cercado elétrico a ofender passarinhos e passantes. Descalvado dos carrões e de " invejas que dão movimento demais aos olhos". Minha cidadezinha onde "Toda paz da Natureza sem gente/Vem sentar-se a meu lado". 
Descalvado - terra de nome árido, onde há casas antigas e uma chapada em miniatura em que o Domingo se põe ao sol.

Olho para os galhos da árvore minha vizinha. Eles fazem lembrar esmeraldas...Esmeralda é a pedra do anel de professora da minha mãe...

Mas, os artrópodes neuróticos se foram e deram lugar para o canto oco de alguma pomba pousada invisivelmente. O Domingo se deixa ir aos poucos. Minha bicicleta está inerte e minhas pernas doem um pouco por causa do passado. 
Solidarizo-me com o que não sei, mas, que de alguma forma percebo estar em comunhão com minhas constatações ora vazias ora frágeis.
Volto a sentir. Meus olhos veem o limbo, o Resedá trajado de inverno.
Ponho um ponto final. 
Esse Domingo já está começando a cheirar à missa das 7!






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