quinta-feira, 2 de março de 2017

Fugindo da Górgona parte centésima.

Hoje passei o dia inteiro fugindo da Górgona. Essa Medusa localizada em parte ignorada no meio do peito, que me provoca uma espécie de azia, enjoo ou síndrome hepática emocional.
Talvez seja ansiedade que adoça demais os olhos. Talvez  eu esteja mesmo bem guarnida de ansiedade - essa Górgona ora me alimenta ora me conduz ao jejum!
Para não encarar a Górgona e não virar pedra, vou enumerar as estratégias das quais lancei mão o dia todo:

- Dei uma de monja copista. Revisitei textos amados e passei muitas horas a copiá-los. Ainda hoje, descobri que os monges medievais copiavam as escrituras bíblicas como forma de dizimarem o tédio. Era um benefício duplo: além de alimentar a alma com sabedoria, o tédio também era rechaçado. (Identifiquei-me ou não?)

- Andei descalça no chão molhado. No asfalto mesmo. Depois na grama, na terra, na lajota me concentrando na sensação que essa simples ação me provocava.

- Como o Zeca assistiu ao filme " Em nome de Deus" - filme em que se conta a história de amor de Heloísa e Abelardo - claro que me emocionei mais um bocado. Assisti até a parte em que os dois foram flagrados. Depois, a coisa só piora! Fugi. No lugar de continuar a assistir, fui pesquisar em francês a famosa história.

- Na pesquisa sobre Heloísa e Abelardo, fui parar num vídeo no Youtube em que um escritor francês chamado Jean Tuilé reconta a história desses dois! Descobri que há um livro chamado Heloïse ouille e que Heloísa era pra lá de prafentex e que Abelardo era praticamente um rockstar da época. Fiquei surpresa com a conexão das coisas. Pois o mesmo Jean Tuilé é autor de Le magazin des suicides - que na verdade é um conto refeito para cinema. (Legal, hein??)

- Ouvindo francês, muitas palavras foram conhecidas ou revisitadas. Dentre elas, o termo caveau (Momento do autoquestionamento se tenho ou não uma veia meio gótica. Será?)Ouvindo caveau, descobri também outro tema muito interessante para se pesquisar que é o chamado Miracle d'Abélard! Parece que quando os restos mortais de ambos se encontraram ou por misticismo ou irregularidade do solo, o esqueleto de Abelardo literalmente abraçou o resto dos ossos da amada! (Achei belo, misterioso, estonteante pra dizer a verdade). Só não pesquiso isso hoje porque já estou cansada. Corri demais da Górgona. Mas, se paro eu ainda doo... Por isso estou aqui escrevendo este montão de coisa! (Com ou sem sentido???)

- Abelardo, Heloísa, ossos, cova! Lá fui eu parar em outro site francês em que havia a explicação estrutural das covas! Bem: vi figuras explicativas sobre a organização dos caixões e conheci o termo "Vazio sanitário". Essa expressão impressionante me deu a conhecer o óbvio: que existe tal separação dos corpos da superfície... Foi aqui que duvidei se quero mesmo ser enterrada! Achei triste, superficial, construído... Contudo, a ideia da cremação nunca me atraiu! Entendo como sacanagem a exposição da microfauna corpórea à fome! Bem no momento do banquete! Cadáver é carne dada aos vermes! Não é alcatra pra churrasco de crematório! (rsrsrs...que coisa mais ridícula de se escrever!)

- Ah, já estou cansada e já bocejo... Tento parar de me entreter. Será que a Górgona já dormiu? Hein? Hein? Heinnnnnn?????? Não! Continuo a doer... Hum...o que fazer, o que fazer? Bem, me deitei no chão. Tentei uma conexão com o superior. Melhorei! Deu mais gás pra correr...Ufa! Górgona imensa!

- Fui ouvir Canto Gregoriano. Abelardo, Heloísa, Górgona, dor... Pensei na claridade que estas entoações meditativas davam à época! Funcionou comigo! Foi lindo! Senti-me mais apaziguada! Dá-lhe Canto Gregoriano então... Fui pesquisar sobre a origem do Canto Gregoriano! Descobri Papa Gregório, descobri século VI, descobri o monastério em Silos na Espanha... E a Górgona atrás de mim ainda! Ai...

- Bem, continuo adepta do silêncio porque hoje falar com as pessoas está dolorido pra mim! Enfio-me aqui na minha "Arrière-boutique" - como diz Montaigne - quer dizer: no meu cantinho!

- Antes de Heloísa e Abelardo, reli "Da solidão" da Cecília para mais tarde pensar em escrever sobre seu elo com o ensaio de Montaigne  "Sobre a solidão". Anotei algumas coisas, alguns pensamentos, escrevi...enfim...vali-me de novo das letras como estrada, "pernas pra que te quero" pra fugir.

Estou cansada de tanto correr com a cabeça. De tanto me manter ocupada! De tanto não encarar esse monstro que é minha Górgona magnífica! É... a glote lacrimeja e no meio do peito não tem ninguém...ou tem um único sobrevivente que ainda grita. E que somente eu mesma ouço!
Estou com a mente calejada de tanto correr. Estou com cãibras nas sinapses... Tô quase na linha de chegada do dia 02 de março para o dia 03 e a Górgona que me espia, espreita, aparece na minha frente e que me olha! Franze ainda mais o cenho. Ri! Meu Deus!!!
Bem, meus olhos já pesam ainda mais! Daqui a pouco: naninha! Espero não reencontrar a Górgona sentada numa poltrona de veludo vermelho no meio do meu inconsciente, entoando Canto Gregoriano ou travestida de casal maluquete medieval! 

Cenas do próximo capítulo. Em breve! Só queria mesmo era um comercialzinho pra descansar.

(Pra variar um pouquinho, ilustro a minha Górgona com a Hydra. Só pra diversificar... O mostrão tá aquático hoje...)


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