terça-feira, 20 de setembro de 2016

"Alegoria do triunfo de Vênus"

Olhe e veja. Deixe-se olhar e ver.





Soube que Agnolo Bronzino - autor da "Alegoria do triunfo de Vênus - pintou este óleo sobre madeira no século XVI (1540-1550). Parece mesmo que a tela é desta época?

Hoje pela manhã, o ar se pôs mais fresco depois da chuva de granizo de ontem.
Não sei por que razão a disposição das cores e a calma da umidade me fizeram lembrar do beijo entre Cupido e Vênus. Não sei...Simplesmente deixei-me levar pela vontade de visitá-lo e de me permitir ser visitada e vista por ele.

Talvez a mansidão da quentura do sol, penetrando pela copa da casa misturada a certo vapor liberado pela presença de nuvens... Talvez a vontade de tornar belo o comum dessas horas... O visgo fresco dos dois lábios macios, parecendo-me gosto tépido e molhado de pele em calda, sequestrou-me das ocupações que tardo a começar.

Salvei minha existência, por breve instante, do imediato das urgências. 
Agora, amaciada por uma espécie de transgressão ingenuamente incestuosa, diabolicamente indefensa e pueril, motivo-me a dar continuidade a meu ser responsável - aquele que respeita os prazos e o inadiável dos compromissos.

***

ps: Você não precisa ir até a National Gallery em Londres para visitar a "Alegoria do triunfo de Vênus". Se puder, que bom! Mas, a impossibilidade de vê-la in loco lembra o seguinte:

"Para que se tenha uma ideia nítida a respeito de algum livro ou de determinado quadro, é necessário possuí-los. Quadros expostos em galerias, visitados ocasionalmente nos confundem [...] não conseguimos estabelecer uma intimidade intimidade [...] sempre os tratamos cerimoniosamente, à distância." (Rilke - O diário de Florença)

Nenhum comentário:

Postar um comentário