quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Postal


"Je n'ai pas plus fait mon livre que mon livre m'a fait. Livre consubstantiel à son auteur" (Montaigne)


O canto dos pássaros orquestrado por uma espécie de silêncio fúnebre.
Desses silêncios  que se fazem na ocasião do sepultamento daqueles que amamos ou amávamos ouvir. (Mas, hoje não é Sexta-Feira Santa).
Olho as formas mudas e quietas, as quais imagino ruminar lembranças de passantes que pisam o simpático tapete azul, sem ao menos se condoer com o fato de ferirem sua cor.
A textura fria de alguns objetos. A tímida suavidade de tudo que é concreto e que, no entanto, não respira.
Lembro.

Com o indicador esquerdo toco a própria mão direita que me observa de um gesto tão familiar e que somente agora vejo... Olho para esses dedos e sinto pena do que não sei.
E de novo. Eu sinto.

Ímã que abarca meus olhos, desmagnetizando a vontade das minhas retinas de continuar a se por sobre tudo que não seja a tua ausência.
Ausência lunar,
Baía.
Porto, velas, 
Incenso dado ao mar,
Embarcação.
Eu espero o retorno de um soldado posto a fundo. 
Eu espero o aceno da assombração indefinida que não deixei de amar.

Eu espero.
Eu espero.


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