quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Tudo pra você vira texto!

Se eu fosse a um médico hoje! Tá, não seria bem um médico! Tá, eu não sei bem como esse curandeiro se definiria. Tá, tampouco eu não saberia como definir o curandeiro...

Se eu fosse a um curandeiro hoje e esse curandeiro me perguntasse:

"_ Olá, como você vai? Tudo bem? Fale-me de sua infância!"

Não, mas, pera aí... Um curandeiro não falaria algo assim... Só se fosse a um curandeiro freudiano. Aí, quem não iria nesse curandeiro seria eu mesma... 

Pois então... Acho que esse tal curandeiro me perguntaria algo do tipo:

"_ Boa noite, Márcia! Fale-me do seu humor hoje, por favor!"

"_ Meu humor de hoje ou meu humor hoje?"

_" Mas, o que? O uso da preposição faz diferença relevante pra você?

"_ Mas, o que pergunto eu, curandeiro! O senhor está querendo me analisar sob qual ângulo afinal?"

"_ Márcia... Fale-me, por favor, do seu humor hoje ou de seu humor de hoje! Contanto que fale, ora bolas!"

"_ Tá bom! Também não precisa ficar nervoso, pombas! Olha, o meu humor hoje está como se fosse o charreteiro e seu próprio cavalo!"

" _ Hum! Sei, continue!"

"_ Meu humor hoje trafega por uma estrada de terra. Da posição onde me encontro, não tenho uma visão muito ampla da estrada, já que estou focada na qualidade do terreno, sabe?"

"_ E por que você está centrada na qualidade do terreno, Márcia?"

"_ Porque, seu doutor curandeiro, percebo que se trata de um terreno por demais irregular! Meu humor trafega em sua charrete, junto do charreteiro por uma via de terra batida! Que, por muitas vezes, se torna via de terra fofa! Têm também muitos buracos. Alguns com lama! Alguns maiores! Outros nem tanto!"

" _ E o cavalo?"

"_ O que é que tem?"

"_ Sim, porque você me falou da charrete e do charreteiro do seu humor...Mas, algum animal está puxando este veículo, não? Como é isso?"

"_ Ah, sim! Meu humor, a charrete, o charreteiro e o cavalo são um só!"

"_ E como o charreteiro faz para enviar os comandos ao cavalo? Ele bate no cavalo?"

"_ Imagina, o que é isso! Não... Os comandos são dados via pensar sentindo ou sentir pensando! É só o charreteiro pensar/sentir a forma, pensar na velocidade, no ritmo do movimento que o cavalo, muito esperto, já se apercebe!"

"_ Muito interessante!"

"_ Sim! Só tenho mesmo que tomar cuidado porque, se o charreteiro que sou eu mesma pensar  ou sentir muito afoita, o cavalo se assusta e pega a galopar meio desgovernado! Hoje já perdi mesmo umas duas ou três malas!"

"_ Malas?"

"_ É! O mantimento que eu vinha carregando de mim para mim mesma! Na verdade, eram mesmo roupas velhas... Alguns objetos já meio encarquilhados que essas malas, também já bem velhas, guardavam! Me exaltei demais! E, como sou o charreteiro, desgovernei sem querer meu cavalo! O cavalo galopou insano, passou por alguns buracos que se encontravam perto de um desfiladeiro! E! Catapláfiti! Lá se foi a bagagem velha!"

"_ E como você se sentiu ao ver as malas e os pertences perdidos pela estrada?"

"_ Pensei comigo: Xi... Lá se foram as malas! Não tive muito pesar... Acabei entendendo que talvez fossem mesmo desnecessárias... Não iam fazer falta pra onde eu estava indo! Mas, como ia dizendo: meu humor trafega por estrada de terra, de terreno muito, mas, muito irregular mesmo! A todo momento, tenho que dizer pra mim: "_ Segura firme, Márcia! Outro galho caiu na sua cabeça!" "_ Segura firme, Márcia, tá chacoalhando um pouco a mais! Tudo bem que o sol está mais quente e a poeira levanta mais do que ontem!" "_ Segura firme, Márcia!" "_ Segura firme, Márcia!". Cansa, né curandeiro?!

"_ É! Cansa um pouco sim... Mas, você sabe pra onde seu humor está guiando vocês? Ou você está guiando seu humor?"

"_ Taí uma pergunta interessante! Às vezes, creio que ora um guia o outro, ora o outro guia o um!"

"_ Sim..." (O curandeiro anota alguma coisa...)

"_ Mas, tenho a impressão de que ambos caminham para um lugar muito bom!"

"_ Ah é? Então, a viagem por esta via irregular tá valendo a pena?"

"_ É...parece que sim, viu..."

"_ E pra onde vocês estão indo, Sir?"

"_ Hum... Olha, eu imagino uma cachoeira! Uma grande e alta cachoeira, cujo riozinho é bastante cristalino e refrescante! É um belo lugar sem muriçoca! Sem gente também!"

"_ Não tem ninguém?"

"_ Não! Não tem!"

"_ E você pode presumir o que você sentirá quando chegar lá?"

"_ É difícil definir previsões, né, curandeiro? Acho que terei vontade de mergulhar nesse riozinho! O Lugar é mesmo bonito e aprazível!"

"_ Mas, por hora, o humor está estrada de terra esburacada? Nada de humor cachoeira por enquanto?"

"_ Pois é! Nada de humor cachoeira! Às vezes, posso sentir alguma névoa..."

"_ Como assim? O lugar está perto então?"

"_ Eu não sei... Pode ser antecipação de humor cambiante! Melhor aguardar e dar água ao cavalo! Às vezes, ele cansa e eu nem percebo!"

"_ Prefere dar água agora?"

"_ É! Acho que sim! Licença de apear?"

"_ Por favor!"

"_ Tudo bem! Foi boa a conversa, mas, não tô a fim de dar carona! Mesmo pro senhor curandeiro que não é freudiano!"

"_ Sem problemas! Minha via é pra outro rumo mesmo!"

"_ Certo! Noite, então!"

"_ Noite! E olha, aproveita ao menos a paisagem então! Olhe de vez em quando pro lado! Deve ter árvore com sombra, passarinhos, céu azul! Nuvens... E, assobiar independe de buraco, terreno irregular! Pode escolher o silêncio se quiser! Mas, olhe para o lado, para cima! Não só para o chão! 

"_ Olha... E não é que pode ser uma boa?"

"_ Se quiser, nem olhar precisa... Perceber a névoa não precisa de olhos! Eu sendo você, de vez em quando daria uma fechada nos olhos! Só ouviria! Talvez se o charreteiro ouvir certos sons que lhe façam bem, o cavalo também se acalme! Cavalos são bons com sons! São sensíveis!"

"_ É... São mesmo!"

"_ Assim, a charrete também se apruma melhor, né não? E o charreteiro, de olhos fechados, pára de tentar a todo custo estar no controle!"

"_ É... bem pensado! Ou sentido!"

"_  Controlar o chão, a quantidade de buracos... Não sei... Não me parece algo verdadeiro! Ou saudável!"

"_ Pois é..."

"_ Então... era só o que tinha a dizer por hoje, mas, disso tudo você já sabia!"

"_ É! Já sabia! Mas, não custa nada o senhor lembrar, né?"

"_ Não, não custa! Visita em casa de curandeiro é sempre de graça!"









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